Vale a pena ser feliz

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vale a pena lembrar do pai



Fim de semana em Búzios! Como é bom energizar o corpo com o silêncio! Estranho? Você acha? Búzios não é só badalação, praias lindas e passeios...tem também o silêncio. Não vou falar aqui das belezas de Búzios já tão decantadas pelo mundo afora. Vou falar da casa da minha cunhada, simples, num condomínio simples, porém belo na sua singeleza. Esta casa é chamada por eles(meu irmão, cunhada e filhos)de "o cavalinho" e eu gostaria hoje de lembrar do porque deste nome, que me reporta a uma lembrança do meu pai, palavras ditas muitas vezes por ele "olha o cavalinho!

Meu pai, homem do interior do RJ(Aldeia Velha)costumava contar um 'causo'de um vizinho dele que anunciara à família que iria comprar o filhote do cavalo de fulano de tal, para lhes ser útil, uma vez que o único cavalo da família já estava velho. Um filhote era mais barato. Esta notícia provocou um alvoroço, pois o filho pequeno do casal começou a elaborar mil planos do que faria com o cavalinho. Dias e mais dias sonhava em voz alta:"vou correr com o cavalinho, vou ensinar pique, vou mostrar como carrega sacos,vou..." e não tinha fim, pois todas as brincadeiras e travessuras que lhe eram prazerosas faria, ora em diante, com o cavalinho.
O pai, homem que só sabia lidar com pensamentos concretos, e diante de tantas atividades com o cavalinho, achou que este não sobreviveria a tantos esforços. Pensando muito, chamou o menino e, diante de toda a família, deu-lhe uma surra nunca experimentada antes pelo garoto, acrescentando as palavras:" isso é pra você aprender a não machucar o cavalinho".
Assim o menino , sem nada entender, ficou chorando pelos cantos, não só pela surra mas principalmente pela perda dos sonhos.
Como o casal vizinho do meu pai era pobre, nunca lhe sobrou o dinheiro para comprar o tal cavalinho. O menino foi punido por ter tido sonhos.

Então, na minha casa quando se começava a brigar por fatos futuros,que poderiam não acontecer, meu pai, para esfriar os animos, lembrava da história do cavalinho e dizia meio sorrindo e meio ameaçador :"olha o cavalinho!".

Meu irmão e minha cunhada sempre quiseram ter uma casa, pois onde moramos ter casa é uma ameaça em todos os sentidos. Todos vivem em apartamentos, com exceção de alguns que enfrentam os problemas e pagam o ônus de morar numa casa.
Pois bem: eles sempre quiseram uma casa de fim de semana, ou em Mauá, ou em Búzios,ou em Lumiar ou São `Pedro do Alto ou até em Aldeia Velha, terra natal do meu pai,que é um recanto muito agradável. Mas, assim como o homem do cavalinho, tinham´pouco dinheiro e muitos sonhos. E essa vontade de ter uma casa já durava anos e muitas discussões aconteceram quando iam decidir pela escolha do local, tipo de casa, as dependências na planta baixa, as plantas do jardim, etc e ,às vezes, brigavam um querendo que seu sonho prevalecesse, e o qual nunca se realizava. Alguém levava uma surra e nunca compravam a casa.
Assim esta casa finalmente pode ser realizada porque, os dois, quando os ânimos se alteravam um dizia para o outro: "olha o cavalinho". O riso que isso provocava era participado por toda a família, contagiando a leveza do projeto.

Isso me faz pensar que muitas idéias que nós queremos que prevaleçam, às vezes em conversas informais ou ocasionais, precisava de alguém que lembrasse "do cavalinho", pois ouvir, sem interpretar, querendo entender o que o outro diz realmente, leva à compreesão, à complementaridade e à realização de algo.
Pois bem, foi lá "no cavalinho" que eu passei o fim de semana no silêncio da região, nas conversas amenas sem compromissos, onde ouvir é melhor que falar.


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Levic

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