Vale a pena ser feliz

segunda-feira, 14 de março de 2011

Deslumbrante a ópera no cinema!



Quando acontece uma coisa boa, sinto vontade de dizer para os outros. E é assim que me sinto hoje depois de assisitir a ópera Carmem em 3D no cinema. Primeiro vem o meu entusiasmo em saber que o cinema está descobrindo um novo filão de audiências ao servir-se de veículo para a apresentação de óperas e ballets famosos do mundo, como os que estão ao vivo vindos do MET(Metropolitan Opera House). É um projeto que vem como um conteúdo alternativo para as salas de projeção, comouma tendência mundial, proporcionando que suas produções possam ser ser exibidas (ao vivo!) nos cinemas. É isso mesmo, o que o público assiste na casa de ópera, os espectadores nos cinemas também assistem, simultaneamente. Eu acho uma experiência fantástica e é claro que nada substitui a experiência de assistir ao vivo, de assistir a uma peça de teatro, ou uma ópera e sentir os atores à sua frente e toda a química produzida entre espectadores e as ações no palco.

Mas isso é quase impossível, a não ser raramente quando se viaja e se tem a oportunidade para tal. Mas, pra mim isso é muito difícil. Se bem que com o avanço das tecnologias atuais, é bem provável que daqui a pouco tempo consigamos alcançar uma experiência cada vez mais próxima do real, do ao vivo. Ao mesmo tempo que ela se aproxima do real, também define uma percepção ao que é (ou poderia ser) real. E foi exatamente isso que constatei ao assistir pela primeira vez a uma ópera em 3D.

Entretanto, eu me pergunto, até que ponto uma arte como a ópera, que se manteve intacta durante séculos no seu modelo de apresentação, consegue se “adaptar” ao ritmo acelerado dos tempos de hoje? A utilização do tempo livre das pessoas mudou muito desde o início do século 19, época desta ópera, até os dias de hoje. E nem é preciso ir tão atrás, basta retroceder até meados dos anos 1950, por exemplo. Eu conheço várias pessoas que gostariam muito de participar desses eventos, mas seu tempo livre já é tomado por outras prioiridades. É uma pena... mas é a realidade do mundo atual.

Mas, enfim, acho que em plena correria de 2011, é um luxo conseguir alocar cerca de três horas para assistir a uma ópera, fora os deslocamentos de ida e vinda, principalmente para quem mora em Niterói, que tem que ir para o Rio e isso sem contar com o preço do ingresso, muitas vezes equivalentes a várias sessões de cinema, por exemplo. Assim, a escolha de assistir a uma ópera requer reflexão. Felizmente, eu me considero privilegiada por conseguir acompanhar algumas e fiquei feliz por ter podido assistir esta Carmem em 3D na minha própria cidade.

Carmen tem 3 horas e foi rodado no famoso Royal Opera House, em Londres. Está legendado em francês porque seu autor, Georges Bizet ( 1838- 1875) foi um compositor francês da época do romantismo. Suas obras mais conhecidas são as óperas "Carmen" e "Les pêcheurs de perles" ("Os pescadores de Pérolas"). A ópera"Carmen" assegura seu sucesso até hoje em dia e é considerada uma obra revolucionária, pois envolve uma história que fala de contrabando, prostituição, roubo, de um submundo vivido pelos ciganos. Este tema para época, e para o público de elite que frequentava as casa de ópera, foi considerado fora dos padrões convencionais. Entretanto, o tema de uma amor enfeitiçador de uma cigana por um honesto homem seguidor dos conselhos de família, perdura no interesse da humanidade até hoje e o tema foi repetidamente vivido em várias versões. Assistir Don Jose falar sinceramente de seu amor ao mesmo tempo que se vê Carmem atestando que seu amor " é livre como um pássaro", mexe com os corações dos espectadores, despertando momentos de pura emoção e lágrimas.

A ópera é dividida em 4 atos e conta a história de Carmen, uma cigana sedutora por quem Don José, um cabo do exército, se apaixona e larga tudo para viver ao lado dela uma vida errante. Mas, sedutora e selvagem como é, Carmen não se prende a paixões por muito tempo, deixando Don José louco de ciúme. Enquanto Micaëla, sua antiga noiva, vai em busca de Don José para levá-lo de volta pra casa, ele segue seu destino trágico em busca do amor de Carmen.

Aliás, a interpretação dos atores/cantores foi das melhores. Eu não os conhecia e fiquei maravilhada com eles. Ela com a voz de contralto afinadíssima canta e interpreta seu papel muito bem. É a grande estrela do palco Christine Rice. Já Don Jose é interpretado por Bryan Hymel, que com sua voz potente de tenor nos leva às emoções com suas árias, além de ser um belo homem, enquanto eu estava torcendo para ela (Carmen), num dado momento,tirar a camisa dele...


O filme começa um pouco antes do início do espetáculo, onde vemos os atores se preparando nos bastidores. Mas é tudo muito rápido. É uma espécie de preparação.

Depois disso eles se encaminham para o tablado, ainda com as cortinas cerradas, e a imagem passa para a orquestra, que dá início a todo o espetáculo. Agora, falando no som, eu preciso ressaltar que o áudio é maravilhoso! A orquestra tocando ao fundo, os atores cantando, os ruídos de cena, tudo é tão nítido e sensível que nos aproxima muito da realidade de estar vendo ao vivo. Nunca vi uma qualidade sonora tão perfeita e envolvente como esta. Se há um ponto alto na parte técnica do filme, certamente é o áudio.

A Iluminação está perfeita, os cenários caprichosamente bem montados e com um grupo de atores muito bom que compõe cada cena de conjunto, com harmonia com a música e movimentos, tudo muito bonito e gostoso de se ver.

O desempenho da mezzo-soprano Christine Rice (Carmen) é envolvente e faz um contra-ponto muito eficiente com a doce Micaëla, interpretada pela soprano Maija Kovalevska. Os detaques masculinos ficam por conta do tenor Bryan Hymel (Don José) e do barítono Aris Argiris (Escamillo). Sem falar na introdução impactante do maestro Constantinos Carydis! A sequência da dança cigana e do solo do toureiro são destaques do espetáculo também.

Enfim, assistir à ópera Carmen, no cinema, em 3D, me trouxe muitas reflexões sobre o próprio conceito de cinema enquanto veículo e espaço onde é contada uma história. Dos primórdios do cinema, onde o teatro era filmado, à tecnologia 3D, muito se evoluiu no universo cinematográfico. E parece que é retomado esse movimento de mudança com o uso do espaço da sala escura como abrigo de novas maneiras de apreciar a arte.

O que importa são os sentimentos que ela pode despertar, e é essa percepção do belo que independe da mídia. Pude sentir a ópera de Carmen, como se estivesse em Londres. Não por sentir totalmente a realidade me tocar, mas por conseguir perceber toda a emoção que faz parte desta maravilhosa e inigualável obra de Georges Bizet.







Um trechinho do filme vale a pena ver!


http://www.youtube.com/watch?v=VF8zXJIdVVI&feature=player_embedded

Levic