Vale a pena ser feliz

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O gostinho francês de ser criança

Há muito tempo eu não vejo um filme tão sensível e pueril como o que eu indico hoje que vale a pena assistir, que é O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas). Como vale a pena também se deleitar com a abertura do filme, animada por Sempé. Aliás o roteiro é baseado em “Le Petit Nicolas” , livro de 1959 de Jean-Jacques Sampé e René Goscinny.

Estreou ano passado na França e foi recorde de bilheteria por lá, e por aqui chegou como destaque do último Festival Varilux de cinema francês, tornando-se um dos maiores sucessos nas férias de julho, sucesso que dura até hoje em vários cinemas. O garoto Nicolas é personagem conhecido e querido da infância francesa, e ele e seus amigos retratam uma infância ingênua e sincera mas muito divertida, que é uma delícia de se assistir!

A história do filme é baseada no primeiro livro da série, "O Pequeno Nicolau volta às aulas", mas o roteiro foi feito a três mãos, por Laurent Tirard, Grégoire Vigneron e Alain Chabat. Sempé ajudou na roteirização, assim com a filha de Goscinny, Anne Goscinny, que só aceitou imortalizar o livro na tela do cinema após a promessa de que ele seria totalmente fiel à série de livros.

"Le petit Nicolas" - O pequeno Nicolau - é uma série francesa de livros (História em Quadrinhos) infantis, publicada entre 1956 e 1964. A série retrata o mundo visto por um garotinho inocente - o Nicolau, que não entende a reação dos adultos, agindo pela sua lógica infantil e quando os seus pais ralham com ele, desata logo a chorar! A série do Pequeno Nicolau contém 5 títulos: O Pequeno Nicolau; As Férias do Pequeno Nicolau; Novas Aventuras do Pequeno Nicolau; O Pequeno Nicolau e seus Colegas e O Pequeno Nicolau no Recreio.

O filme, eu diria que é despretensioso, pois mostra o cotidiano de um grupo de meninos em um colégio francês dos anos 50. Assim como nos livros, todos os amigos de Nicolas tem uma peculiaridade. Clotaire tem dificuldades de aprendizado e já está acostumado a ser repreendido pela professora; Alceste é o menino gordinho que come tudo o que vê pela frente; Geoffrey, um menino rico mas que não tem a atenção dos pais; Eudes, o "cdf" que dedura os colegas e que ninguém pode bater porque usa óculos. Esse universo infantil criado por Renné Goscinny (mais conhecido no mundo por Asterix que é de fato uma criação incrível, como também de Lucky Luke, quadrinho sobre um cowboy solitário do velho oeste) e imortalizado pelo desenhos de Jean-Jacques Sempé é um universo vivo em nossas lembranças, pois Nicolau é aquele menino que representa um pouquinho de todos nós.

Continuo dizendo que há muito tempo um filme não me fazia chorar de tanto rir quanto esse, e de uma maneira simples e eficiente,oferecendo um mundo povoado pela doçura e inocência do olhar infantil. É muito bom em diversos sentidos: trata das aventuras de crianças que vivem e olham o mundo com o olhar de crianças, as situações entre os adultos que são entendidas pelos adultos não deixam de ser divertidas, a fotografia e adaptação de época para a década de 1950 são excelentes e a trilha sonora sensacional de Klaus Baudet.

No final, fica aquele gostinho de como é bom ser criança e ter a felicidade dessa fase da vida. Assim o filme mostra Nicolau: um menino alegre, feliz, com muitos amigos no colégio que frequenta. Um dia, ao escutar uma conversa de seus pais, ele interpreta que irá ganhar um irmãozinho. Muito impressionado com a história do "Pequeno Polegar", o garoto acredita que seus pais não lhe amarão mais, e que irão abandoná-lo em uma floresta. Apavorado, ele pede ajuda aos seus inseparáveis amigos. Juntos, eles armam planos mirabolantes para ajudar Nicolas a agradar seus pais, e livrar-se do bebê assim que ele nascer.

Em um dado momento do filme as crianças inventam uma forma de ganhar dinheiro fácil para custear um perigoso projeto: copiar a poção mágica de Asterix e vender para seus colegas, afirmando que eles ficarão tão fortes quanto o personagem da revista em quadrinhos. Este pequeno trecho dá uma boa idéia do estilo de humor inocente utilizado pelo filme e também coloca lado a lado os dois personagens mais conhecidos de René Goscinny, o Petit Nicolas e o simpático gaulês Asterix.


Outro aspecto que salta aos olhos é a belissíma direção de arte, que mantém todo o espírito da obra de Goscinny e consegue criar umabela Paris e seus arredores dos anos 50 de maneira lúdica, nos remetendo um pouco aquela estética da Paris de Jacques Tati com seu inesquecível Monsieur Hulot.

O humor colocado no filme Mon Oncle, novamente, nos vem a lembrança diante das tramas envolvidas neste outro filme indicado. E eu fico pensando: como se faz um enredo tão pueril se tornar tão atraente e envolvente, a ponto de guardar os momentos com uma doce lembrança de provocar sorriso nos lábios? Qual é a genialidade que permite isso? Somente o cinema francês é capaz de tratar a história com humor sem cair no enfado de tantos outros filmes de comédia. Exagero?

E porque é uma produção francesa o filme está apenas no circuito de sala de arte, onde quase as crianças não comparecem. Só porque é europeu, ou asiático não merece estar nas grandes salas? Com isso todos perdem. Enfim, melhor eu parar por aqui…

Vale a pena dizer: o filme é maravilhoso!



Levic

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