Já fiz uma postagem sobre ele no meu blog "É Diferente",(http://diferentedooutro.blogspot.com.br/2012_02_23_archive.html(http://diferentedooutro.blogspot.com.br/2012_02_23_archive.html), onde lhe marco com o desígnio de diferente. Mas hoje, especialmente, quero falar de seu último filme "Para Roma com Amor".
Nessa trajetória que ele firmou de filmar em outros países, desde a época em que se aborreceu com a produção americana, e eu sei disso segundo uma entrevista onde ele declarou que a maioria do cinema americano está calcada em agradar a plateia infantilizada e estúpida, com ideias velhas como um puro reflexo da sociedade americana, que Allen vem dando uma nova ação em seu curso cinematográfico. Enfim, o caráter essencial dessa fase europeia do diretor é o descontentamento.
Na última década, o diretor nova iorquino, com exceção de seu único filme rodado nos EUA que foi "Tudo pode dar certo" (2009), tem se dedicado a um tour pelo Velho Continente, trazendo à tona, como em nenhum outro momento de sua carreira, um enredo que dá uma forma divertida e sutil de como retratar as cidades.
Nos seus últimos filmes, percebi um certo cuidado em mostrar aspectos positivos dos lugares e de seu povo. Desde Match Point (2005), ambientado em Londres, o cineasta vem se dedicando a fazer seus filmes destacando o privilégio das cidades europeias. Sua tour pelo velho continente já passou por Londres (em Match Point, Scoop - o grande furo, O sonho de Cassandra e Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos), Barcelona (em Vicky Cristina Barcelona), Paris (em Meia Noite em Paris) e agora Roma (em Para Roma com Amor).
Diferente do seu filme anterior, Meia-Noite em Paris , a história não reflete a alma cultural, romântica e atemporal da cidade, mas passeia por obviedades e noções amplas do que é Roma. A locomoção pelas ruelas mostra-nos com encanto as ruínas da cidade e de certos lugares que atiçam nossa imaginação. Saí do cinema com vontade de ir para o aeroporto e pegar um vôo para Roma (aliás das poucas cidades que conheço, Roma foi a que mais me encantou e que me deixou com um cheiro de nostalgia e deslumbramento).
Vai ser muito difícil encontrar alguém que não tenha rido ou se encantado em um ponto ou outro do filme. Inspirado no Decameron (é uma coleção de cem novelas escritas por Giovanni Boccaccio entre 1348 e 1353), o filme é montado por quatro histórias paralelas que envolvem traição e fama e como o ser humano pode agir nessas situações. Os conflitos e situações de extremos são típicas do diretor, que sempre explora nas amenidades do cotidiano os profundos conflitos da mente humana. O forte de Allen são seus personagens e a forma como ele destrincha suas inseguranças, medos e neuroses. A graça de seus filmes é a lupa colocada nessas relações, nas brigas e detalhes de cada personalidade que nada mais são do que os nossos próprios reflexos das nossas próprias relações emocionais. Mesmo assim, podemos notar o humor e a sua criatividade.
Interessante é que o filme inicialmente teria seu título como “Bop Decameron”, mas Woody Allen o alterou após constatar que poucas pessoas conheciam a obra Decamerão nos dias de hoje.
No longa-metragem "Para Roma com Amor", Allen dividiu o filme em quatro tramas distintas que não tem relação entre si, somente o cenário de Roma que tem semelhança. As quatro histórias distintas, que jamais se cruzam, abordam um conhecido arquiteto americano revivendo sua juventude; um morador de Roma que se vê de repente como uma grande celebridade da cidade; um casal de jovens que vivem encontros e desencontros românticos; e um diretor de ópera que faz de um agente funerário um cantor de óperas, de forma singular.
É uma novidade no roteiro que lida com quatro histórias com protagonistas distintos, num formato que remete às comédias italianas como Boccaccio 70. Porém, o diferencial de "Para Roma, com Amor" está no modo em como elas são processadas na tela, contadas individualmente. Ao impor este intervalo entre partes de suas histórias, o cineasta faz um filme dinâmico.
Ao final, todas as histórias respeitam o tempo ideal de duração, não criando aquela sensação de que foram longas ou curtas demais. Sem dizer que é uma agradável surpresa rever Woody Allen em frente às câmeras. Sem atuar desde Scoop – O Grande Furo, o veterano retorna aqui para fazer aquele famoso neurótico responsável por diálogos de puro sarcasmo.
Como já é habitual nos filmes de Woody Allen, o elenco é estrelar: Ellen Page, Jesse Eisenberg, Penélope Cruz, Alison Pill, Alec Baldwin, Greta Gerwig, Roberto Benigni, Judy Davis e Ornella Muti. O filme apresenta a bela fotografia de Darius Khondji (o mesmo de "Meia-Noite em Paris"), mostrando a Cidade Eterna em um colorido quente.
Dizem os críticos que o roteiro pode não estar na mesma altura de outros trabalhos de Allen, mas eu acho que é superior a muito do que há nas telas ultimamente.
E como última observação há de ser destacada a seleção de músicas e a escolha do grande tenor Fabio Armiliato (nascido em Gênova ), um famoso tenor italiano, agora tornado o mais famoso para o público americano por causa do seu papel como Giancarlo, que é o agente funerário no filme.
No mais, a leveza e a descontração do filme e a série de pequenas histórias que remetem à comédia italiana trazem um prazer que poucos filmes recentes conseguem proporcionar. E mais uma vez mostra a genialidade desse cineasta que brinca com a própria situação, ao falar, na boca de seu personagem, que não deseja se aposentar, pois isso indicaria a morte iminente. Que ele pois continue seguindo sua jornada de um filme por ano, seja na Europa, seja nos EUA, ou quem sabe no Brasil? Para a nossa alegria e para a da enorme lista de atores e atrizes que desejam trabalhar com este diretor, pelo prazer e pelo prestígio de trabalhar com Allen.
Vale a pena conferir. É um filme muito leve, alegre e divertido. Vá sem medo de errar porque VALE A PENA!
Levic